sábado, 29 de agosto de 2009

A essência da vida

No final de todos os arco-íris existe uma porta, basta encontrar a chave da esperança. Mas, para isso, descubra a essência da vida.
O amor deve ser supremo. Hoje o ódio reina na Terra, as pessoas são ambiciosas e só pensam em si mesmas. Esqueceram qual a real essência de viver e perderam-se no caminho para o arco-íris.
Acordar de manhã e dizer bom dia, levantar-se com um sorriso. A essência da vida está em reconhecer e em saber apreciar as coisas simples. Ouvir um passarinho cantar e achar a música mais linda do mundo; relaxar com o titilar da chuva na janela; caminhar na praia e sentir a brisa que vem do mar só para beijar a sua face… É -seperder observando o horizonte do mar; é sentar-se na relva ou na areia para presenciar o pôr-do-sol e achar que essa é a mais bela das obras de artes já criadas no mundo. É ficar horas e horas cantando para a Lua; é ver desenhos nas nuvens…
A essência de viver é estar esperando um final de semana ensolarado e de repente vem aquele temporal, mas mesmo assim você acha que o dia não poderia ser melhor. É sair com os amigos e se divertir; é fazer os outros sorrirem mesmo você estando triste; é ajudar um amigo em má fase e levantar-lhe o astral. É saber dizer sim, mas também dizer não…
É saber perdoar um amigo que lhe disse palavras duras; é saber reconhecer oa seus erros e também pedir perdão. É mentir para não magoar, mas ser sempre sincero para conservar os bons amigos.
É ter esperança que os sonhos podem ser verdadeiros, mesmo quando todos dizem que é uma mentira. É não ter medo de correr atrás de seus objetivos e não desistir mesmo que você tombe no caminho.
É assistir a um filme e chorar de emoção mesmo sabendo que é ficção. É chorar ao ver as barbaridades que o jornal noticia. É não perder a esperança nunca e ter fé que as coisas podem tornar-se melhores, se não ficarmos parados de braços cruzados.
A essência da vida está em cada um de nós… Nas palavras que dizemos, nos nossos gestos, no sorriso a quem nem ao menos conhecemos, num “bom dia” sincero, num beijo, num abraço, num aperto de mão. Enfim, a essência de viver está nos pequenos e mais simplórios gestos, só basta saber reconhecer!


Ana
O Nó do Afecto

Numa reunião de pais numa escola da periferia, a directora ressaltava o apoio que os pais devem dar aos filhos; pedia-lhes também que se fizessem presentes o máximo de tempo possível. Ela entendia que, embora a maioria dos pais e mães daquela comunidade trabalhassem fora, deveriam achar um tempinho para se dedicar e entender as crianças.
No entanto, a directora ficou muito surpresa quando um pai se levantou e explicou, com o seu jeito humilde, que ele não tinha tempo de falar com o filho, nem de vê-lo, durante a semana, porque quando ele saía para trabalhar era muito cedo e o filho ainda estava dormindo. Quando voltava do serviço já era muito tarde e o garoto já não estava acordado. Explicou ainda, que tinha de trabalhar assim, para prover o sustento da família, mas também contou que isso o deixava angustiado por não ter tempo para o filho e que tentava redimir-se indo beijá-lo todas as noites quando chegava em casa, e para que o filho soubesse da sua presença, ele dava um nó na ponta do lençol que o cobria. Isso acontecia religiosamente todas as noites quando ia beijá-lo.
Quando o filho acordava e via o nó, sabia, através dele, que o pai tinha estado ali e o havia beijado. O nó era o meio de comunicação entre eles.
A directora emocionou-se com aquela singela história e ficou surpresa quando constatou que o menino era um dos melhores alunos da escola.
Jamais esqueça o principal, que é a comunicação através do sentimento. Simples gestos como um beijo e “um nó na ponta do lençol”, podem fazer a diferença.
O facto faz-nos refletir sobre as muitas maneiras das pessoas se fazerem presentes, de se comunicarem com os outros. Aquele pai encontrou a sua, que era simples, mas eficiente. E o mais importante é que o filho percebia, através do nó afectivo, o que o pai estava lhe dizendo.
Faça com que as pessoas “ouçam” a linguagem do seu coração. As pessoas podem não entender o significado de muitas palavras, mas sabem registrar um gesto de amor. Mesmo que esse gesto seja apenas um nó.

Ana

Lenda Chinesa

Era uma vez, uma jovem chamada Lin, que se casou e foi viver com o marido para casa da sogra. Depois de algum tempo, começou a ver que não se adaptava à sogra. Os temperamentos eram muito diferentes e Lin cada vez se irritava mais com os hábitos e costumes da sogra, que criticava cada vez com mais insistência.
Com o passar dos meses, as coisas foram piorando, a ponto de a vida se tornar insuportável. No entanto, segundo as tradições antigas da China, a nora tem que estar sempre ao serviço da sogra e obedecer-lhe em tudo.
Mas Lin, não suportando por mais tempo a ideia de viver com a sogra, tomou a decisão de ir consultar um Mestre, velho amigo do seu pai.
Depois de ouvir a jovem, o Mestre Huang pegou num ramalhete de ervas medicinais e disse-lhe: “Para te livrares da tua sogra, não as deves usar de uma só vez, pois isso poderia causar suspeitas. Vais misturá-las com a comida, pouco a pouco, dia após dia, e assim ela vai-se envenenando lentamente. Mas, para teres a certeza de que, quando ela morrer, ninguém suspeitará de ti, deverás ter muito cuidado em tratá-la sempre com muita amizade. Não discutas e ajuda-a a resolver os seus problemas.”
Lin respondeu:
- “Obrigado, Mestre Huang, farei tudo o que me recomenda”.
Lin ficou muito contente e voltou entusiasmada com o projeto de assassinar a sogra.
Durante várias semanas, Lin serviu, dia sim dia não, uma refeição preparada especialmente para a sogra. E tinha sempre presente a recomendação de Mestre Huang para evitar suspeitas: controlava o temperamento, obedecia à sogra em tudo e tratava-a como se fosse a sua própria mãe.
Passados seis meses, toda a família estava mudada. Lin controlava bem o seu temperamento e quase nunca se aborrecia. Durante estes meses, não teve uma única discussão com a sogra, que também se mostrava muito mais amável e mais fácil de tratar com ela. As atitudes da sogra também mudaram e ambas passaram a tratar-se como mãe e filha.
Certo dia, Lin foi procurar o Mestre Huang, para lhe pedir ajuda e disse-lhe:
- “Mestre, por favor, ajude-me a evitar que o veneno venha a matar a minha sogra. É que ela transformou-se numa mulher agradável e gosto dela como se fosse a minha mãe. Não quero que ela morra por causa do veneno que lhe dou.”
Mestre Huang sorriu e abanou a cabeça:
- “Lin, não te preocupes. A tua sogra não mudou. Quem mudou foste tu. As ervas, que te dei, são vitaminas para melhorar a saúde. O veneno estava nas suas atitudes, mas foi sendo substituído pelo amor e carinho que lhe começaste a dedicar. “

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

restos de mim...

Quando nada do que fui aqui restar

o Sol declinará cadavérico sobre a praia

num abraço de areia doirada.



Pronunciará, lentamente na sua ritmada cadência,

por mim, no marulhar, tal onda ordenada,

em cada vaga, uma a uma, as vogais

chagas abertas, feridas incendidas de uma vida

de menina, de mulher, de uma Fada ...

O Sol .... será da espuma alva - do que restar do meu corpo -,

o tear, o altar e o tumular lençol ...

Ana

ser ave e não voar...

"A boca, onde o fogo
de um verão
muito antigo cintila,
a boca espera
(que pode uma boca
esperar
senão outra boca?)
espera o ardor
do vento
para ser ave,
e cantar."

Eugénio de Andrade


Existem momentos em que me inquiro sobre o verdadeiro rumo das aves! Voar? Ou apenas existem para que nos questionemos sobre a fragilidade da nossa própria existência? De comuns mortais almejando sulcar o anil veludo dos céus? Se nada temos por certo senão o facto de que chegámos vindos de um espaço escuro, de um túnel de carne e que a luz do dia nos acolheu e nos disse: - Existe!!!!

Existimos. E nesta caminhada buscamos o eterno Graal Sagrado. A taça de cicuta em que nos afundamos, insanos. Nesta busca, soltamos o animal que em nós habita e que, não raras vezes, nos impede de raciocinar.

Em boa verdade coabita em nós a dualidade sermos racionais - pretendermos racionalizar tudo - e não obstante, sermos animais e como tal, reagirmos de forma instintiva.

Em momentos de tensão somos animais. Todo o nosso sistema metabólico se programa para o ataque ou para a fuga... Fugir... Voar... Voar alto, mais alto, voar ao infinito e do alto, soltar o grito...

Não, hoje não quero racionalizar ... Quero apenas ser ave e voar. Como tu gaivota, que insistes em não abandonar este espaço-terraço, virado a Poente. Olho-te com os olhos líquidos da madrugada. Olho-te com estes olhos de criança, no matiz topázio do verde-mar. (Continuo sempre a sonhar...)

Desfoco... já não te vejo, Gaivota ... Apenas um vulto difuso se projecta contra o Poente... Apenas...

A alma, essa, atracou nas tuas asas e sulca as veias do céu... "espera o ardor do vento para ser ave, e cantar." 1

Recordo Eugénio... Dentro de mim borbulham as palavras sem bocas, essas que falam de bocas sem palavras...

Desavisadas, as palavras, sopram as nuvens assentes sobre os meus cabelos... num redopelo.

São vento... Despenteado o pensamento, liberta-se de amarras e voa, alado, acalentado nos braços alísios de um tempo. Voa... Voa...

Não, não me digas nada. Que a noite lisa, pura e limpa, borda agora o negro da estrada. Deixa que o tempo se esqueça de nós. Que as horas, de cansadas, adormeçam sentadas ali na amurada. Deixa que a lua se olhe nos espelhos mil vezes reflectidos, dos meus e dos teus sentidos na nudez imensa das ondas repetidas, ordenadas pela gravidade das estrelas e dos cometas. Pela urgência da gravítica atracção dos corpos.
Não, não digas nada, que cansadas estão as bocas de mil palavras. Mascaradas. Disfarçadas de aves sem asas.

Toma-me a alma, nesta noite dos dias, e diz-me sem palavras que sou a tua amada.
Enfeita-me os cabelos de astros, entrelaça-os em grossas tranças, como quando era criança. Douradas. Da cor da areia da praia…

Conta-me de ti, dos teus sonhos, dos teus medos, dos teus desejos. Conta-mo na cadência de cada onda tombando, ininterruptamente. De trás para a frente e no reverso, na maré vaza ou maré cheia… Melopeia … Sem palavras.

Conta-mo num lampejo. Do teu olhar, fulgor … Esse que adivinho, existir, quando ausente de mim, olho as estrelas equiparadas às asas de uma gaivota projectadas no fundo de um céu azul. Nesta orla de mar.

E, menina do Mar, acasalo com ela, os sonhos de navegar … sempre a planar.
E de igual modo, projectada me vejo no verde esmeralda do mar … E no rosáceo das rochas desta ilha tão antiga ou, quando do topo do monte, situado a jusante, vejo o verde prado constante … a ondular e as árvores de tão sozinhas num perpétuo varejar.Tombadas até ao chão no varejo do vento insano. Choram as hastes partidas, arrancadas assim à florescência da Vida … Quando a semente brota do chão o fruto tomba na concavidade da minha mão.

Nesse momento sei que existes e te busco na perfeição de um mundo (re)construído. Para te amar. Na melodia do piar de mil aves do mar, das ondas incessantes a marulhar, nos cheiros matizes de sal e pinheiro. No negro-verde de densas florestas povoadas de Druidas e de Fadas.

Não, não digas nada. Deixa as nossas bocas coladas, que seladas, falarão mais que mil palavras…

1) Eugénio de Andrade

Ana

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O meu silêncio


Despeço-me e parto.
Chove interminavelmente e sinto-me cansada. O guarda-chuva trava a chuvada de bater no rosto mas não é essa dor que temo. Afasto-me daqueles que seguem caminho para casa e envolvo-me nos meus atrapalhados pensamentos. Costumo aproveitar a minha pródiga solidão, o silêncio no retorno a casa, mas não desta vez.
Nem triste, nem eufórica.
Vazia.
Um sentimento de vazio apodera-se de meu corpo, da alma, perturbando o ambiente.
Quis ter alguém a meu lado. Alguém na partilha da luta contra a chuva, os rostos ocultos nas sombras, as vozes que retumbam no vazio.
Alguém que atenuasse o silêncio. O silêncio que os gritos de chuva cicatrizam em mim. Um ombro que elevasse na sua mão o guarda-chuva como sua espada, que rasgaria os céus da multidão, dos pesadelos horrendos que alimentam os cantos da cidade, e clamasse vitória. Que me desenraizasse do vazio, tal mão salvadora num abismo.
Alguém que fosse vulto. Que olhasse os gestos de ritmos pelos meus olhos e que ouvisse com os meus ouvidos o que ainda não aprendi a escutar. Alguém que se encontrasse nos meus passos, os passos incertos e vagos de menina perdida.
Alguém que escolhesse as palavras, que não as minhas, e que as falasse (que as gritasse!) ou as silenciasse no silêncio que é pintado pela compreensão e da ausência do real.
A chuva continua a morrer.
Pensei nesse anjo mudo mas não surdo que veria pelos meus olhos a luz que me foi oculta.
Descobri que caminho no meu trilho de meditações, no silêncio que não desejo ser roubado por ninguém.
O meu silêncio.
O silêncio que observa, que esboça e que me ouve.
Mas que me sufoca...

Ana

palavras...

Gosto de palavras.
Gosto até do som ao dizer "palavras".
As palavras são para mim corpos tocáveis, palpáveis, são sensualidades entranhadas.
Escrevo por isto mesmo. Porque gosto de palavras, gosto de como ficam bem quando conjugadas. Escrevo para me perder. Gosto da sensualidade que é perder-me e morder o lábio como uma virgem anónima e intocável.
Tantas vezes escrevo sem pensar, num devaneio externo e longíquo. Deixo que as palavras me façam companhia e me rocem o cabelo com intimidade.
Tantas vezes escrevo frases sem sentido e deixo-as fluirem mórbidas e melancólicas tal qual as ondas que se misturam e indefinem.
A palavra chorar nunca me amedrontou. Nem a palavra mágoa.
Não choro por nada que a vida me traga ou leve. Há no entanto momentos saudosos que me trazem melancolia. Sentimentos que nenhuma felicidade real me fará sentir, como nenhuma tristeza imitará antes da cortina fechar a peça, como o sopro que nos leva.
Não... Não é saudade desses tempos que tenho. É saudade daquele breve momento, é mágoa de não poder ter tudo outra vez pela primeira vez.

Ana