quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O meu silêncio


Despeço-me e parto.
Chove interminavelmente e sinto-me cansada. O guarda-chuva trava a chuvada de bater no rosto mas não é essa dor que temo. Afasto-me daqueles que seguem caminho para casa e envolvo-me nos meus atrapalhados pensamentos. Costumo aproveitar a minha pródiga solidão, o silêncio no retorno a casa, mas não desta vez.
Nem triste, nem eufórica.
Vazia.
Um sentimento de vazio apodera-se de meu corpo, da alma, perturbando o ambiente.
Quis ter alguém a meu lado. Alguém na partilha da luta contra a chuva, os rostos ocultos nas sombras, as vozes que retumbam no vazio.
Alguém que atenuasse o silêncio. O silêncio que os gritos de chuva cicatrizam em mim. Um ombro que elevasse na sua mão o guarda-chuva como sua espada, que rasgaria os céus da multidão, dos pesadelos horrendos que alimentam os cantos da cidade, e clamasse vitória. Que me desenraizasse do vazio, tal mão salvadora num abismo.
Alguém que fosse vulto. Que olhasse os gestos de ritmos pelos meus olhos e que ouvisse com os meus ouvidos o que ainda não aprendi a escutar. Alguém que se encontrasse nos meus passos, os passos incertos e vagos de menina perdida.
Alguém que escolhesse as palavras, que não as minhas, e que as falasse (que as gritasse!) ou as silenciasse no silêncio que é pintado pela compreensão e da ausência do real.
A chuva continua a morrer.
Pensei nesse anjo mudo mas não surdo que veria pelos meus olhos a luz que me foi oculta.
Descobri que caminho no meu trilho de meditações, no silêncio que não desejo ser roubado por ninguém.
O meu silêncio.
O silêncio que observa, que esboça e que me ouve.
Mas que me sufoca...

Ana

Nenhum comentário:

Postar um comentário