sexta-feira, 27 de março de 2009


Há momentos em que o tempo não tem idade.
O que conta são as conchas e as luas, os búzios e as marés. Nada mais.
Todos os lugares são nossos, todos os ventos nos chamam, todas as mesas mitigam a nossa fome e a nossa sede. É como se o mundo fosse nosso e o medo e a morte não passassem de ficções benévolas dos livros do adormecer tardio.
Haverá uma idade em que os momentos não terão tempo.
Será a idade em que cada palavra trará uma revelação, um milagre em forma musica, em que cada sorriso será uma benção e cada carícia uma descoberta.
E que essa idade se esvai-a como a areia empurrada pelo vento e que dela nunca nos fique apenas a lembrança de um perfume ou do rumor de uma voz.
É disto que se alimenta a vida, deste desejo objectivo e breve que parece vir da terra quando vem do mar, que parece vir do céu quando é do corpo que se ergue.
Nunca as ânforas serviram para guardar as lágrimas, nem os dedos para contar os dias.
Há uma outra idade um outro tempo um só momento, em que tudo volta de súbito a ter o seu verdadeiro valor.

Ana

Nenhum comentário:

Postar um comentário