terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Camaleões sociais: pessoas que mudam segundo as circunstâncias

fevereiro 5, 2018 em Psicologia279 Compartilhados
Camaleões sociais: pessoas que mudam segundo as circunstâncias
Os camaleões sociais são os campeões na hora de causar uma boa impressão. Eles não hesitam em praticar um tipo de mercantilismo emocional, onde é normal dissimular os próprios sentimentos, pensamentos e opiniões, com o objetivo de serem aceitos e conseguir a aprovação dos demais. É um tipo de prática que causa sérios efeitos secundários na própria dignidade.
É muito provável que muitos de nossos leitores recordem um curioso filme de Woody Allen intitulado “Zelig”. Nele, o protagonista apresenta uma curiosa habilidade sobrenatural: é capaz de mudar sua aparência por completo para se adaptar a qualquer meio em que se encontre. Finalmente, uma jovem psicanalista adverte que o verdadeiro problema de Leonard Zelig, a saber, é sua extrema insegurança, que o leva a se camuflar entre as pessoas para se sentir aceito e integrado.
 
“Quem é autêntico assume a responsabilidade de sê-lo e se reconhece livre para ser o que quiser ser.”
-Jean Paul Sartre-

Há gente que consegue andar sobre os pegos como os alfaiates, fazendo bolha contra a água, sem se ferir nas lâminas que a inconstância do tempo aparelha.
Outros vão-se enfiando devagarinho, primeiro as plantas dos pés contra os seixos húmidos, depois os tornozelos e as coxas até ao arrepio da barriga. Enganando o medo oferecem as costas e os ombros e só depois gozam plenamente o frenesim dos peixes à solta nos cabelos.
Outros mergulham de repente sem pensar se o calor do sangue é suficiente para deter o frio, ou se partem a cabeça numa pedra caprichosa e aguda .
Há gente que simplesmente não arrisca, nem mergulha, nem se molha.
Espera nas margens que o rio passe.

© MARIA JORGETE TEIXEIRA 

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

APRENDI
Aprendi que eu não posso exigir o amor de ninguém, posso apenas dar boas razões para que gostem de mim e ter paciência, para que a vida faça o resto.
Aprendi que não importa o quanto certas coisas sejam importantes para mim, há pessoas que não dão a mínima importância e eu jamais conseguirei convencê-las.
Aprendi que posso passar anos construindo uma verdade e destruí-la em apenas alguns segundos. Que posso usar meu charme por apenas 15 minutos, depois disso, preciso saber do que estou a falar.
Eu aprendi... Que posso fazer algo em um minuto e ter que responder por isso o resto da vida. Que por mais que se corte um pão em fatias, esse pão continua a ter tendo faces, e o mesmo vale para tudo o que cortamos no nosso caminho.
Aprendi... Que vai demorar muito para me transformar na pessoa que quero ser, e devo ter paciência. Mas, aprendi também, que posso ir além dos limites que eu próprio coloquei.
Aprendi que preciso escolher entre controlar os meus pensamentos ou ser controlado por eles. Que os heróis são pessoas que fazem o que acham que devem fazer naquele momento, independentemente do medo que sentem.
Aprendi que perdoar exige muita prática. Que há muita gente que gosta de mim, mas não consegue expressar isso.
Aprendi... Que nos momentos mais difíceis a ajuda veio justamente daquela pessoa que eu achava que iria tentar piorar as coisas.
Aprendi que posso ficar furioso, tenho direito de me irritar, mas não tenho o direito de ser cruel. Que jamais posso dizer a uma criança que seus sonhos são impossíveis, pois seria uma tragédia para o mundo se eu conseguisse convencê-la disso.
Eu aprendi... que meu melhor amigo vai me magoar de vez em quando, e que eu tenho que de me acostumar com isso. Que não é o bastante ser perdoado pelos outros, eu preciso de me perdoar primeiro.
Aprendi que, não importa o quanto meu coração está a sofrer, o mundo não vai parar por causa disso.
Eu aprendi... Que as circunstâncias de minha infância são responsáveis pelo que eu sou, mas não pelas escolhas que eu faço quando adulto.
Aprendi que numa discussão eu preciso escolher de que lado estou, mesmo quando não me quero envolver. Que, quando duas pessoas discutem, não significa que elas se odeiem; e quando duas pessoas não discutem não significa que elas se amem.
Aprendi que por mais que eu queira proteger os meus filhos, eles um dia vão se magoar e eu também. Isso faz parte da vida.
Aprendi que a minha existência pode mudar para sempre, em poucas horas, por causa de gente que eu nunca vi antes.
Aprendi também que diplomas na parede não me fazem mais respeitável ou mais sábio.
Aprendi que as palavras de amor perdem o sentido, quando usadas sem critério. E que amigos não são apenas para guardar no fundo do peito, mas para mostrar que são amigos.
Aprendi que certas pessoas vão embora da nossa vida de qualquer maneira, mesmo que desejemos retê-las para sempre.
Aprendi, afinal, que é difícil traçar uma linha entre ser gentil, não ferir as pessoas, e saber lutar pelas coisas em que acredito.
EGITO GONÇALVES, in O PÊNDULO AFECTIVO - Antologia Poética 1950-1990| Prefácio de Óscar Lopes (Porto: Ed. Afrontamento, 1991)
COM PALAVRAS
Com palavras me ergo em cada dia!
Com palavras lavo, nas manhãs, o rosto
e saio para a rua.
Com palavras – inaudíveis – grito
para rasgar os risos que nos cercam.
Ah!, de palavras estamos todos cheios.
Possuímos arquivos, sabemo-las de cor
em quatro ou cinco línguas.
Tomamo-las à noite em comprimidos
para dormir o cansaço.
As palavras embrulham-se na língua.
As mais puras transformam-se, violáceas,
roxas de silêncio. De que servem
asfixiadas em saliva, prisioneiras?
Possuímos, das palavras, as mais belas;
as que seivam o amor, a liberdade…
Engulo-as perguntando-me se um dia
as poderei navegar; se alguma vez
dilatarei o pulmão que as encerra.
Atravessa-nos um rio de palavras:
Com elas eu me deito, me levanto,
e faltam-me palavras para contar…
Esta noite faço puzzles de ti – junto uma peça e outra, de entre milhares de palavras, gestos, frases, sinais e canso-me na busca incessante daquela combinação de peças que me aquietaria a alma e que eu nem sei qual é. Sinto uma mágoa que dói em mim, como se por isso ela te poupasse da dor de um olhar de raiva que te rasgasse a pele. Mas o eco dessa dor parece-me tão difícil de suportar que prefiro guardá-la dentro de mim, tão silenciada, tão amarrada. Ponho-a cá fora devagar, sobretudo em pensamentos porque estes não magoam, são ar…pensamentos que te constroem e reconstroem em puzzles que buscam histórias que me dêem um lugar, em que não fique nenhuma peça de fora e o final possa ser feliz.